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Telexfree, bloqueada, ainda permite registros a partir do Brasil
Telexfree, bloqueada, ainda permite registros a partir do Brasil
Sistema de pagamentos dos EUA contratado pela empresa, suspeita de pirâmide financeira, permite indicação de endereço no País no cadastro obrigatório
Apresentada como um modelo de ganhar dinheiro com venda de serviço de telefonia VoIP e colocação de anúncios na na internet, a Telexfree conquistou 1 milhão de pessoas no País, chamados de divulgadores. Para se ter uma ideia do sucesso, o termo "Telexfreee" foi o segundo mais buscado no Google em 2013. Bateu, inclusive, a novela "Salve Jorge" e o reality show "A Fazenda".
Desde junho, quem acessa o site em português da Telexfree encontra um aviso de que a “estão proibidas novas adesões à rede Telexfree”. A determinação foi imposta pela 2ª Vara Cível de Rio Branco, a pedido do Ministério Público do Acre (MP-AC), que investiga a empresa.
Para driblar o bloqueio, basta um clique, conforme explica um divulgador que conversou com a reportagem do iG por meio do Skype – em tese, um concorrente do Voip da Telexfree – sem se identificar.
“Acessa o site normal [da Telexfree] e clika [sic] na bandeira americana”, orienta o divulgador João*, que indicou a reportagem para que fizesse parte do grupo de divulgadores. “Vamos acessar o site americano.”
Orientação semelhante foi recebida do divulgador Sílvio*, ao qual a reportagem chegou por indicação de Fanny*, apontada como uma da “top 10” integrantes da Telexfree nos Estados Unidos.
Para o MP-AC, o serviço de Voip, apontado como uma das principais fontes de faturamento da empresa, é apenas uma fachada. Os recursos obtidos pela empresa viriam das taxas de adesão pagas pelos divulgadores, que vão de US$ 289 a a US$ 1.375.
"Quando entrei, eu pretendi apenas fazer as postagens [de anúncios], mas a Fanny começou a enviar pessoas. Aí eu fui cadastrando e fazendo binário e trinário e residual [termos usados para identificar os bônus pagos pela Telexfree]. Agora minha renda ao todo é R$ 5.200", conta Sílvio, que afirma estar há cinco meses "na rede dos EUA".
São Paulo, Massachusetts
Na página de cadastro, o Brasil está ausente da lista de países de residência, mesmo no site em inglês. Mas o interessado em fazer parte do grupo pode, mesmo depois de informar que mora na cidade de São Paulo, escolher o estado americano de Massachusetts, por exemplo, conforme indicado pelo site, e completar o cadastro, como fez o iG.
Concluído o cadastramento, é preciso registrar-se no E-Wallet, um sistema americano de transação de dinheiro pela internet. Nele, é possível escolher Brasil como o país de residência.
Cadastro no E-Wallet da Telexfree: possibilidade de indicar o Brasil como local de residência
Colocar o endereço correto é necessário, uma vez que, de acordo com os divulgadores consultados, é para onde será enviado o cartão da E-Wallet que permite sacar, no Brasil, os rendimentos obtidos com a Telexfree. O sistema, entretanto, permite transferências para cartões de crédito ou débito. Os saques podem ser feitos no Brasil em caixas eletrônicos de cinco bancos, segundo informa o vídeo da Telexfree.
"Vc pode sacar com o cartão de debito que eles lhe envia [sic] no endereço do Brasil", diz Sílvio.
A reportagem não chegou a fazer transações de dinheiro pelo sistema, e a Telexfree não comentou as informações. Em e-mail, a equipe do sistema E-Wallet informou haver "restrição" ao acesso a partir do Brasil, e orientou a reportagem a procurar a Telexfree.
Empresas nos EUA
A decisão que bloqueou as atividades da Telexfree no Brasil foi emitida contra a Ympactus Comercial LTDA., empresa fundada em 2010 no Espírito Santo, e contra os seus sócios Carlos Costa, Carlos Wanzeler e James Matthew Merrill.
O grupo detém outras duas empresas nos Estados Unidos: a Telexfree Inc, fundada em 2002 em Massachusetts e que tem Merril e Wanzeler como diretores; e a Telexfree LLC, de Nevada, administrada por Costa, Merril e Wanzeler.
Em novembro, Costa afirmou ter proposto ao MP-AC a possibilidade de os divulgadores do Brasil participarem da "Telexfree americana". A proposta não foi aceita.
Para a promotora Alessandra Marques, uma das responsáveis pela apuração, o MP-AC poderá acusar os sócios de estarem descumprindo a decisão judicial se ficar provado que estão por trás da continuidade dos cadastros de brasileiros na rede Telexfree.
“[Se ficar provado] o descumprimento da decisão da juiza, nós pediremos a multa. Se ficar comprovado, nós vamos pegar o dinheiro [bloqueado] e executar [a multa]”, afirmou Alessandra à reportagem.
A reportagem procurou dois advogados da Telexfree e a IPayout System. Ambas não quiseram comentar as informações para a reportagem.
* Os nomes dos entrevistados foram modificados para preservar sua identidade